Sou
professor graduado há 10 anos. Trabalho na rede pública e privada. Estudei
minha educação básica numa rede particular de escolas de subúrbio. Não estudei
muito nessa época. Ia a escola e era um aluno dedicado nas aulas, mas não
estudava em casa. Era relapso e preguiçoso, mas fui sendo aprovado porque conseguia
as notas. Nunca fiquei de recuperação.
Ao
terminar o ensino médio, me dediquei a ser aprovado em concursos militares. Meu
plano era passar na Escola de Formação de Sargentos e ter um emprego razoável
que me desse condição de fazer uma graduação. Queria ser professor. Foram dois
anos de estudos em cursinhos que me deram uma boa noção de física, matemática e
português. O método era bem baseado em repetição. Porém o adestramento gera
resultados... e como sempre fui bem observador, aprendi nesses cursos a
organizar bem um caderno, a organizar o modo de estudar, a ter uma dedicação um
pouco maior aos estudos. Podem parecer coisas simplórias, mas a meu ver são
muito relevantes para o desenvolvimento de uma autonomia intelectual. Apesar de
tudo isso, aprouve as condições que eu não fosse aprovado. Desisti da carreira
militar e fui direto ao vestibular. Fiz o vestibular no ano 2000 e fui aprovado
sem muitas dificuldades. A base do cursinho militar ajudou nessa facilidade.
Ao
chegar a faculdade federal me deparei com um monstro. A erudição. Reclamei,
esperneei, xinguei e maldizi. Reparei que não sabia escrever nem ler. A
primeira resenha que escrevi na faculdade recebi nota 2,0. Suei sangue, mas
sobrevivi. No tempo da faculdade, aprendi a ler os textos teóricos mais densos.
Não era o aluno mais dedicado, mas li coisas importantes. Li Marx e Engels. Li Locke, Paulo Freire, Anísio
Teixeira e Piaget. Li Tocqueville, Rousseau, Thoureau, Perry Anderson, Hobsbawn
e Edward Said. Li o Paine, Arendt, Adam Smith, Tomas Kuhn, Celso
Furtado, Fernando Henrique Cardoso, Caio Prado Junior, Sérgio Buarque de
Holanda... só pra citar os mais relevantes. Debati, assisti a discussões e
cresci. Cresci em vários aspectos. Ganhei concepções que transformaram a minha
percepção de mundo. Entendi uma série de coisas, mas não voltei a academia por
enquanto. São 10 anos de formado e só voltei a sala de uma faculdade num curso
de pós-graduação latu sensu que não
conclui por problemas burocráticos. Já faz 8 anos.
Apesar
desse afastamento, não me sinto enferrujado. Leio algumas coisas em casa,
discuto com outros historiadores, dou aula, o que na minha concepção é um
belíssimo exercício de crescimento intelectual, quando parte de uma atitude
reflexiva e construtiva.
Daí,
a partir da minha trajetória, eu não aceito algumas coisas, como: ser informado
pela Rede Globo. Isso sem nenhuma arrogância da minha parte, mas é uma questão óbvia.
Eu sou professor e explico as coisas. Tento entender as coisas, reflito,
proponho e ajo. A Rede Globo que dá notícias, narra o que acontece não tem
condição nenhuma de me informar, o contrário dá. Eu informaria várias coisas a
Globo, eles não tem condições de fazer o mesmo, simplesmente porque não tem o
que informar para além do que se vê, para além do que se passa... Aprendi que a realidade está
encoberta por uma aparência. E a Globo só informa a aparência. São abordagens
pobres e superficiais. Frágeis. O modo correto de se relacionar com a Globo é o
mesmo modo de se relacionar com as vizinhas fofoqueiras. A gente fica sabendo só as generalidades... O jornalismo da Globo
é uma central de fofoqueiras corocas e cheias de moralismo. Por essas e outras
a Globo não tem condição de me informar.
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