sexta-feira, 22 de julho de 2016

A Rede Globo não tem condição de me informar

                Sou professor graduado há 10 anos. Trabalho na rede pública e privada. Estudei minha educação básica numa rede particular de escolas de subúrbio. Não estudei muito nessa época. Ia a escola e era um aluno dedicado nas aulas, mas não estudava em casa. Era relapso e preguiçoso, mas fui sendo aprovado porque conseguia as notas. Nunca fiquei de recuperação.
                Ao terminar o ensino médio, me dediquei a ser aprovado em concursos militares. Meu plano era passar na Escola de Formação de Sargentos e ter um emprego razoável que me desse condição de fazer uma graduação. Queria ser professor. Foram dois anos de estudos em cursinhos que me deram uma boa noção de física, matemática e português. O método era bem baseado em repetição. Porém o adestramento gera resultados... e como sempre fui bem observador, aprendi nesses cursos a organizar bem um caderno, a organizar o modo de estudar, a ter uma dedicação um pouco maior aos estudos. Podem parecer coisas simplórias, mas a meu ver são muito relevantes para o desenvolvimento de uma autonomia intelectual. Apesar de tudo isso, aprouve as condições que eu não fosse aprovado. Desisti da carreira militar e fui direto ao vestibular. Fiz o vestibular no ano 2000 e fui aprovado sem muitas dificuldades. A base do cursinho militar ajudou nessa facilidade.
                Ao chegar a faculdade federal me deparei com um monstro. A erudição. Reclamei, esperneei, xinguei e maldizi. Reparei que não sabia escrever nem ler. A primeira resenha que escrevi na faculdade recebi nota 2,0. Suei sangue, mas sobrevivi. No tempo da faculdade, aprendi a ler os textos teóricos mais densos. Não era o aluno mais dedicado, mas li coisas importantes. Li Marx e Engels. Li Locke, Paulo Freire, Anísio Teixeira e Piaget. Li Tocqueville, Rousseau, Thoureau, Perry Anderson, Hobsbawn e Edward Said. Li o Paine, Arendt, Adam Smith, Tomas Kuhn, Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso, Caio Prado Junior, Sérgio Buarque de Holanda... só pra citar os mais relevantes. Debati, assisti a discussões e cresci. Cresci em vários aspectos. Ganhei concepções que transformaram a minha percepção de mundo. Entendi uma série de coisas, mas não voltei a academia por enquanto. São 10 anos de formado e só voltei a sala de uma faculdade num curso de pós-graduação latu sensu que não conclui por problemas burocráticos. Já faz 8 anos.
                Apesar desse afastamento, não me sinto enferrujado. Leio algumas coisas em casa, discuto com outros historiadores, dou aula, o que na minha concepção é um belíssimo exercício de crescimento intelectual, quando parte de uma atitude reflexiva e construtiva.
                Daí, a partir da minha trajetória, eu não aceito algumas coisas, como: ser informado pela Rede Globo. Isso sem nenhuma arrogância da minha parte, mas é uma questão óbvia. Eu sou professor e explico as coisas. Tento entender as coisas, reflito, proponho e ajo. A Rede Globo que dá notícias, narra o que acontece não tem condição nenhuma de me informar, o contrário dá. Eu informaria várias coisas a Globo, eles não tem condições de fazer o mesmo, simplesmente porque não tem o que informar para além do que se vê, para além do que se passa... Aprendi que a realidade está encoberta por uma aparência. E a Globo só informa a aparência. São abordagens pobres e superficiais. Frágeis. O modo correto de se relacionar com a Globo é o mesmo modo de se relacionar com as vizinhas fofoqueiras. A gente fica sabendo só as generalidades... O jornalismo da Globo é uma central de fofoqueiras corocas e cheias de moralismo. Por essas e outras a Globo não tem condição de me informar.


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