Coisas
de todo dia que precisam ser explicadas, ou pelo menos explicitadas. Quinta
feira - a semana já está perto do fim, e eu também. Levanto cansado e atordoado.
Cansado de ter trabalhado 10 tempos na quarta feira e pensar que terei pela
quinta feira mais 12 tempos me fazem perder a fé no mundo. Saio tal e qual um
zumbi a zanzar pela rua, o caminho que é longo até a parada dos ônibus, parece
mais longo ainda. São seis e meia da manhã e já está muito calor. Deve estar
uns 30 graus as seis da manhã. Chego no ponto, espero uns 10 minutos e chega a
van. Nem dou bola pras pessoas que estão no ponto. As pessoas parecem sempre tão
fechadas. Tem uns dois ou três estudantes, uma mulher gostosinha também
sonolenta e um homem, vestido com uniforme. Na van, só tem lugar em pé. Entro
como o zumbi que permaneço sendo desde que saí de casa. No ponto seguinte
consegui me sentar.
Chegando
na escola, um alerta. A polícia invadiu a Vila Kennedy e podem estar vindo pros
lados de cá uma turma de traficantes da pesada. Só rio e entro na escola,
torcendo pras aulas serem interrompidas. Calor infernal, professores
conservadores e alunos dispersos. Essa combinação não faz parte de um ambiente
pedagogicamente saudável. Passam-se os tempos sem maiores sobressaltos. Alunos
brigando, guerra de comida, dificuldade na comunicação. E a fome aumentava
progressivamente... Porque não tomei um suco verde antes de sair de casa?
Preguiça do caralho. Fico em jejum até a hora do almoço. Saio da escola e
andando em direção ao ponto, almoço num pé-sujo delicioso. Um dos melhores
arroz branco dos últimos três anos! Come-se a vontade por um preço barato.
Copos oleosos e garfos frágeis. Pela rua até mais o ponto, o calor aumenta. Bangu
é realmente lindo. Deve estar uma sensação de uns 45 graus. Minha roupa
empapada de suor causa uma sensação esquisita de estar molhado, mas de suor. E
ainda tenho sete tempos em Campo Grande. Turmas preparatórias: adolescentes
embrasados de hormônios e arrogância. Explicações racionais e fome de informações.
Chego à instituição e as aulas também correm dentro do previsto, o que a essa
altura do campeonato nem sei se é bom ou ruim. Lá pelas 4 da tarde comecei a
achar que a quinta feira não chegaria ao fim e que eu ficaria preso nesse dia
pra sempre. Batendo o sinal do intervalo, saio furtivamente pra comer e voltar.
O tempo se arrasta. Não vejo mais vantagem em estar no ar condicionado, preferia
estar em casa a qualquer custo, quase choro. Mantenho a pose e seguro a onda
até as 20h, quando saio de lá, já com as pernas semi-dormentes de ficar em pé.
Vou
pegar a Queila na faculdade. Ora, paro na Rodoviária de Campo Grande, compro um
Derby a varejo, boto quatro músicas do Bebeto na máquina e bebo duas cervejas
pra lavar a minha alma. O calor continua, o que só aumenta o valor da cerveja.
Bêbados dançando, pessoas apressadas e eu ali me deleitando do néctar de cevada
gelado. Na van ainda vou sonhando com minha casa, ao lado da janela, com vento
no rosto, fantasiando Easy Rider depois de um dia de trabalho. Encontro a
Queila e vamos pra casa num taxi. Chegando em casa, temos janta. Luxo. Comemos
e ao irmos dormir, mesmo cansados, ainda nos entregamos um ao outro com paixão,
fazendo a quinta feira realmente valer a pena. Depois de tudo, com carinho e
afeto, vamos logo dormir. Amanhã tem mais 6 tempos!
Um comentário:
Dez tempos na quinta é foda... Só mesmo uma cervejinha e um amorzinho pra fechar bem o dia. Conta comigo para os dois.
Postar um comentário