Cartas e Telefones
É difícil ter satisfação,
com tanta coisa atrapalhando,
com tanta gente me ligando
pra saber do meu procedê.
É muita conta pra pagar.
E isso tira o meu sossego,
pois não tenho regulagem,
gasto com o que tenho vontade
em busca da satisfação.
Obviamente nem tudo que é bom, é caro.
Somente por isso fico aliviado
e consigo passar o mês,
às vezes sem sobressalto,
mas o que acontece normalmente
é tornar crônico meu endividamento.
O que aumente significativamente
o meu medo do telefone.
E eu odeio atender o telefone,
por conta da impertinência,
de tocar a qualquer momento,
fazendo-nos perder a referência
às vezes atrapalhando a sequência
que parece, a princípio, natural.
É a porra da contingência
construindo a realidade.
Promovendo constantes replanejamentos,
impondo cada coisa a seu próprio tempo
tornando complexa a verdade,
tirando da normalidade
o cotidiano dos indivíduos.
Também não abro correspondências
Estes papéis vindos dos Correios
fazem meu sangue se transformar em gelo
quando penso ser de algum credor,
insatisfeito com minha dívida
ou com minha postura.
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