quinta-feira, 12 de março de 2009

Frei Leonardo Boff... sempre muito bom

O Deus de Bush e de Bin Laden

Apesar dos mestres da suspeita Marx, Freud, Nietzsche e Popper terem feito uma crítica devastadora da religião, ela resistiu e está voltando poderosamente em todas as partes do mundo. Mas, em grande parte, volta, fazendo de Deus o legitimador da guerra, do terrorismo ou do conservadorismo político e religioso. Bin Laden comenta os atos de terror, com rosto crístico, agregando:"Alá seja louvado". Bush antes de dar o ultimato a Saddan Hissein, se recolhe, consulta Deus em oração e comunica aos assesores:"Tenho uma missão a realizar e com os joelhos dobrados peço ao bom Senhor que me ajude a cumpri-la com sabedoria". Sob o Pontificado de João Paulo II ganhou força uma religiosidade carismática e fundamentalista que dança e canta o "Pai Nosso" sem articulá-lo com o "Pão Nosso". O Deus de Bin Laden e de Bush são ídolos porque não é possível que o Deus vivo e verdadeiro queira o que eles querem: a guerra preventiva e o terror que vitimam inocentes ou que queira um tipo de fé que não articula a paixão por Deus com a paixão pelos sofredores.

O ateismo ético tem razão ao negar esse tipo de religião com o seu Deus que justificou outrora as cruzadas, a caça às bruxas, a inquisição e o colonialismo e hoje a guerra do Iraque, o terrorismo islâmico e a moral sem misericórdia. É mais digno ser ateu de boa-vontade, amante da justiça e da paz, do que um religioso fundamentalista insensível à ética da vida.

É possível ainda crer em Deus num mundo que manipula Deus para atender a interesses perversos do poder? Sim, é possível, à condição de sermos ateus de muitas imagens de Deus que conflitam com o Deus da experiência dos místicos e da piedade dos puros de coração.

Então a questão hoje é: Como falar de Deus, sem passar pela religião? Porque falar religiosamente como Bin Laden e Busch falam é blasfemar Deus. Mas podemos falar secularmente de Deus sem referir seu nome. Como bem dizia Dom Casaldaliga, se um opressor diz Deus eu lhe digo justiça, paz e amor, pois estes são os verdadeiros nomes de Deus que ele nega. Se o opressor disser justiça, paz e amor eu lhe digo Deus pois sua justiça, sua paz e seu amor são falsos.

Podemos falar secularmente de um fenômeno humano que, analisado, remete à experiência daquilo que Deus signaifica. Penso no entusiasmo. Em grego, de onde se deriva, entusiasmo é enthusiasmós. Ela se compõe de três partes: en (em) thu (abreviação de theós=Deus), e mos (terminação de substantivos). Entusiasmo significa, pois, ter um Deus dentro, ser tomado por Deus. Não é uma intuição fantástica?

O entusiasmo não é exatamente isso, aquela energia que nos faz viver, cantarolar, saltitar, dançar e irradiar vitalidade? É uma força misteriosa que está em nós mas que é também maior que nós. Nós não a possuimos, é ela que nos possui. Estamos à mercê dela. O entusiasmo é isso, o Deus interior. Vivendo o entusiasmo, neste sentido radical, estamos vivenciando a realidade daquilo que chamamos Deus.

Essa imagem é aceitável porque Deus é próximo e dentro de nós, mas também distante e sempre para além de nós. Bem dizia Rumi, o maior místico do Islã: "Quem ama a Deus, não tem nenhuma religião, a não ser Deus mesmo". Nestes tempos de idolatria oficial há que se resgatar este sentido originário e existencial de Deus. Sem pronunciar-lhe o nome, o acolhemos reverentemente como entusismo que nos faz viver e que nos permite a alegre celebração da vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara, belo texto, e gostei da citação que fala de apressor, paz, justiça e amor.
Abraço!